terça-feira, 3 de agosto de 2010

Fazer ficção é sonhar acordado

Entrevista concedida a Frente & Verso Comunicação Integrada

Faltando 15 dias para o lançamento do seu primeiro livro, o autor baiano Márcio Matos fala dos desafios enfrentados pelos novos literatos brasileiros, da experiência de produzir A Suave Anomalia, romance vencedor do edital de Apoio à Edição de Livros de Autores Baianos, que sai pelo selo da editora Casarão do Verbo - e dos preparativos para o lançamento da obra em 19 de agosto, às 19h30, na Galeria do Livro do Espaço Unibanco Glauber Rocha.

O que o fez escrever A Suave Anomalia?

É muito difícil para um escritor explicar as razões do seu ofício. Primeiro, porque pode parecer cabotinismo. E segundo porque não há uma motivação específica. A minha escrita é uma resposta ao que eu vejo e ao que se passa comigo. Provavelmente, A Suave Anomalia nasceu a partir da incômoda observação do comportamento de alguma família, não necessariamente a minha.

Qual a proposta de seu livro?

Não gosto da palavra proposta. Ela soa como algo planejado, pomposo e, definitivamente, A Suave Anomalia não nasceu de nenhuma intenção prévia. Porém, se pensarmos no resultado final do livro, poderíamos dizer que ele é uma crônica de costumes.

O senhor faz uma crítica à família?

Sim e não. A instituição familiar é complexa, mas ela representa apenas a união entre duas pessoas naturalmente atraídas em torno de algum propósito: procriação, autopreservação etc. O sujeito existe antes da família. Nela ele adquire parte da sua formação; a partir dela ele se projeta. Dentro da família o sujeito vivencia problemas que são só dele, mas que podem ser potencializados pelo convencionalismo do modelo de convivência comum à maioria das casas (geralmente opressivo e hipócrita). Em A suave Anomalia eu focalizo o sujeito. A família é apenas o ambiente catalisador dos dilemas individuais.

Por que optou por uma ficção?

Fazer ficção é sonhar acordado. Borges, que pra mim é um escritor quase insondável, tem uma frase fundamental: "A literatura não é outra coisa além de um sonho dirigido".

Por que alguns personagens não têm nome? Dizem que o nome é uma das marcas da identidade de uma pessoa.

Há um núcleo central de personagens que conduz a narrativa, que faz as coisas acontecerem e há os "mortos-vivos", que orbitam em torno desses personagens. Os sem-nome até tentam algum protagonismo, mas em geral são arrastados pelo que os mais determinados desejam. Quando a identidade é falha, o indivíduo fica à mercê dos outros.

O mistério que conduz a trama foi casual ou decidido no início da história?

O mistério serve à narrativa e não o contrário. Não foi a minha intenção fazer o que os americanos chamam de "whodunit", o famoso "quem matou?". Sempre me interessa muito mais dissecar as motivações dos personagens.

Vamos falar um pouco sobre os preparativos para o lançamento da obra?

Está tudo muito bem encaminhado. A equipe que está comigo na empreitada é formada por pessoas muito competentes e todos estão se esforçando para, ao menos, lançar no mercado um produto digno do formato livro.

Quais as dificuldades que o Senhor enfrentou para publicar o livro?

Sou um cara cético. Tenho a consciência de que estou na periferia do sistema cultural do país e, talvez por isso, não tenha corrido atrás de uma editora. Acho que por aqui a grande saída são mesmo os editais culturais e o patrocínio das grandes empresas.

O senhor acredita que há falta de incentivos ao escritor no Brasil?

Não acho que alguém precise de incentivo para se tornar escritor. Essa necessidade simplesmente se impõe sem que tenhamos controle consciente sobre ela.

O que acha do escritor brasileiro?

O escritor brasileiro "é antes de tudo um forte". Precisa ter perseverança para insistir na carreira. Somos um país de iletrados e, por aqui, mesmo os que se interessam por livros preferem os de auto-ajuda ou os de vampiros castos.

Quais escritores te influenciaram e de que forma?

O maior de todos: Philip Roth. O que tem maior capacidade para contar histórias: Eça de Queiroz. E o mais genial desbravador da alma humana: James Joyce. Seria um atrevimento dizer que eles me influenciaram. Prefiro dizer que eles me inspiraram.

O leitor poderá aguardar novos lançamentos de Márcio Matos?

Só quem pode responder a essa pergunta são os editores. Eu continuarei com meus alfarrábios (já deu pra perceber que a escrita me persegue, né?).

4 comentários:

casanova disse...

o senhor márcio matos parece muito lúcido e corajoso.

aeronauta disse...

Oi, Márcio, obrigada pelo convite de lançamento de seu livro, e pela visita ao aeronauta.
Gostei de suas respostas, fortes, precisas. Irei sim ao seu lançamento!
Um abraço.

Unknown disse...

Parabéns Márcio, espero que seu livro seja um verdadeiro sucesso e que você continue a orgulhar a todos nós, RP's!!! Sucesso mais uma vez!!!!!

Unknown disse...

Parabéns, meu amor! Mais um sonho realizado. Tenho certeza que muitos outros virão. Você é o meu grande orgulho. Amo-te, aliás amamos você. Marina, quando estiver maiorzinha, já vai ter um livro do pai para ler.